Friday, July 27, 2007

O Primeiro Amor




Hoje pensei em tudo aquilo que me move, tudo aquilo que me faz sonhar e sorri.

Sentada na relva de um pequeno jardim, com um cigarro a consumir-se lentamente entre os meus dedos, sentindo a Terra pulsar nas minhas entranhas, observei a vida em meu redor.

Dois pequenos pardais depenicavam-se quem sabe se atirando juras de amor ao vento ou impropérios um ao outro. Um pouco mais ao longe vi uma velhota que em vão tentava conter a energia do neto com comentários gritados, afinal, com um sorriso "Ai este meu neto que é sempre a mesma coisa!".
Em pequenas mesas de madeira dois velhotes jogavam dominó enquanto um grupo de jovens rapazes jogavam à bola. Um deles de súbito estacou como se num repente tivesse encontrado uma parede de vidro. E então vi-a. Uma menina de cabelos louros como o sol que passeava a sua pequena Yorkshyre e parecia nem notar o menino que a fitava extasiado "Artur, olh'à bola! Pa onde é que ele tá a olhar?! Ò Artur!!!"

E o rapaz lá pareceu despertar, mas tornou-se muito mais desajeitado, como se nunca tivesse jogado à bola na sua vida. E lá o via deitar os olhos sempre que podia à menina que circulava pelos canteiros do jardim.

"Um dia... um dia Artur, quando te tornares alto e as tuas feições forem as de um homem. Um dia ela vai saber que tu existes, ela vai olhar para ti e ela irá sorrir de volta."
"Mas ainda falta tanto tempo mãe..."
"Goza a tua idade meu filho, porque o Tempo fugirá de ti como areia por entre os teus dedos e em breve acordarás adulto e quererás tornar a ser criança e o Tempo é criatura teimosa, só anda em frente..."
"Não entendo mãe."
"Pois não, mas um dia vais entender."

Shay


Angel by Sarah McLachlan

Quando não temos palavras...

Wednesday, July 25, 2007

Becas



A imagem não é muito agradável mas trouxe-me doces recordações. Eu explico, tive em tempos de infância uma cadela de seu nome Becas (Rebeca apesar de querer esquecer essa infeliz ideia da minha mãe!).

Esta cadelinha foi a minha companheira de brincadeira, a única companhia de uma filha demasiado única. Posso até dizer que esta menina foi minha irmã. Apesar de toda a gente afirmar o mesmo vou recorrer ao cliché e afirmar que só lhe faltava mesmo falar, pelo menos português.

Desde os meus doze anos até à minha idade adulta que me acompanhou nos bons e nos maus momentos, que chorou e riu comigo. Vi este bicho fazer proezas dignas de uma Lassie. Mas esta cadela tinha uma particularidade. Ainda jovem foi atropelada por um autocarro e perdeu uma das patas dianteiras. No entanto e, felizmente, brindou-nos ainda durante vários anos com a sua vivacidade. Durante muitos anos correu ainda como se tivesse quatro patas e não três (sobretudo quando havia gatos no horizonte!).

O som do seu coxear que ecoava pelo chão coberto de mosaico, ainda hoje ressoa na minha cabeça cada vez que penso nela. E logo me vêm à lembrança aqueles olhos grandes amendoados de pessoa, que nos fitavam como se nos estivessem a ler o pensamento.

Morreu velhinha e com uma vida cheia. Um dia contarei aos meus filhos as histórias da minha irmã Becas.

Já agora... está a chegar o Verão. Infelizmente milhares de animais estão prestes a perder o seu lar e a sua família e a ganhar um bilhete para o abandono. Abandonaria um membro da sua família? Então não abandone o seu animal. E para as pessoas que estão a pensar ficar com um, pensem bem nas implicações e na atenção que um bicho exige. Um filho cresce e sai de casa, um animal dependerá de nós para o resto da sua vida!

Shay

Friday, July 20, 2007

Sem titulo


A chuva cai miudinha

No vale onde descanso,

Cresce o volume do ribeiro manso, colorindo a tarde que adormece.

E as nuvens humedecem as flores silvestres,

Impregnando-as de seiva refrescante.

É a hora em que relembro o meu amante,

O seu perfil etéreo, apaixonante...

E o aroma das estevas,

O desenho das serras,

Dão-me sensações de tal prazer,

Que não quero que a noite desça

E venha amolecer esta paixão

Que sinto dentro de mim.

E gosto de ti terra perfeita

Que mais quererá minh'alma insatisfeita?

Que ambição por algo mais bem feito

Se esconde no meu peito?


Por Fernanda Cordeiro


Obrigado Mãe...

Thursday, July 19, 2007

Memórias Esquecidas




Aos poucos que leram o que escrevi na primeira mensagem peço desculpa tão demorada ausência... não importa. Voltei para lançar de novo mensagens ao vazio tão repleto que é este universo onde escrevo.

Eventualmente um dia teria que falar disto... falar desse vestido intemporal que me persegue em sonhos e me pesa na realidade...
Perguntar-me porque tantas vezes me sinto princesa de conto de fadas e outras tantas demónio de histórias fantasmagóricas...

Gosto de acreditar que não pode ser só isto... a vida não podem ser meia dúzia de acções maioritariamente mecânicas que efectuamos para nos sentir bem e repetir um dia após o outro...


E então canto, choro e grito perante um infinito que me parece nada mais do que um quarto fechado, uma gaiola dourada que me instila uma sensação de falsa harmonia.
Numa falésia na praia deito-me e tento ouvir o choro da Terra, tento perceber o que é ser dominada dia após dia pelo profundo oceano. Sinto a minha Alma fugir do meu corpo e voar, voar sobre um pai a abraçar o seu filho, voar sobre um grupo de amigos que se ri em redor duma mesa de petiscos, voar sobre uma criança feliz no dorso do seu cavalo...


E então regresso, regresso à minha morada mortal. A principio a sensação é de infelicidade de retorno à prisão após uma fuga ilícita. Mas após pestanejar, após os meus olhos se habituarem à escuridão, vejo-te, adormecido de braços estendidos para mim...


E então entendo... amo-te.


Shay